O 'Entrevista Com' desta semana escolheu Manuel Rocha, treinador do Pedroso, para entrevistado. A entrevista foi realizada na passada semana, por isso alguns dos temas abordados, principalmente referentes aos caso Cerco do Porto-Vila FC, estão já fora de data, uma vez que a partida já se realizou.
Ao longo desta entrevista, o técnico aborda a época do Pedroso, a fase má pela qual a sua equipa passou e onde o treinador chegou mesmo a colocar o seu lugar à disposição, não esquecendo os seus projectos futuros e a sua indignação por ninguém apostar nele a outro nível, sem no entanto, se preocupar muito com isso.
Uma entrevista exclusiva do 'A Bola é Redonda' a não perder...
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Manuel Rocha acedeu de bom grado a uma entrevista realizada no GaiaShopping |
A Bola é Redonda (ABR) - Boa tarde Manuel Rocha. Queria que me fizesse um balanço da época do Pedroso, uma época difícil, de altos e baixos, mas onde o Pedroso está na luta pela subida.
Manuel Rocha (MR) - Boa tarde. Foi uma época espectacular, com jogadores fantásticos, com atitude espectacular, assíduos aos treinos e com muita vontade de vencer. Estes jogadores tinham que subir de divisão como prémio, pois tudo fizeram para isso. Começamos excelentes e depois tivemos uma fase negra em todos os aspectos, onde fomos massacrados e chamados ao dever por quem manda no futebol. É óbvio que estivemos mal internamente, com lesões e com os jogadores se calhar a sentir as dez vitórias seguidas. Fomos prejudicados em alguns jogos, mas ultrapassamos essa fase. Eu próprio achei que também não tinha condições de continuar, mas a direcção deu-me um voto de confiança até porque havia já muita pressão por parte dos sócios e eu pensei e acedi ao pedido do presidente e continuei. Depois falamos dentro do balneário e perguntamos o que queríamos desta época e foi tudo unânime em querer subir de divisão. Depois disso, só perdemos com o Cerco e num jogo caricato, onde tínhamos mesmo que perder, que foi no Vila e por coincidência com o mesmo trio de arbitragem do Cerco. Não fomos nos que o escolhemos. É certo que também pecamos na finalização, mas também penso ‘será que seria suficiente?’, talvez não, talvez sim, não sei. Fomos muito superiores nesses dois jogos, perdemos e viemos meditar mais uma vez e não voltamos a perder. Época fantástica, com directores que fizeram tudo o que podiam para que conseguíssemos os nossos intentos.
ABR - O Pedroso fez uma época fantástica, mas teve um período negro como já falamos, no entanto voltou à luta, mas pelo quarto ano arrisca-se a não subir. O que falta ao Pedroso para se afirmar?
MR - É o nome. A freguesia de Pedroso deveria ser mais respeitada, mas muita gente não gosta de Pedroso. Temos que pedir por favor para treinar, é óbvio que este ano deram-nos outras condições, pois deixaram-nos treinar duas vezes quando jogávamos em casa e ai o meu agradecimento ao vereador e ao responsável pelo pelouro do desporto. Mas Pedroso é uma instituição, não tem que andar a pedir favores a ninguém. As pessoas têm que lutar para por o nome do Pedroso no alto. Não, é ao contrário. São três ou quatro pessoas dentro do clube que têm que andar a pedir para que aquilo cresça. E é isso que falta. É o crescimento interno e externo e é um dizer ‘nos estamos aqui’ e por isso não existir, é muito mais fácil para alguns manipular estas equipas. Homens sempre tivemos para jogar e dirigir o clube, mas não sei que falta mais. Somos sempre os melhores. Há três anos foi o Salgueiros que nos impediu a subida, o ano passado foi o Maia…
ABR - O Pedroso acabou por ficar em quarto e subiram três…
MR - Acredito que se o Pedroso tivesse ficado em terceiro e o Maia em quarto, subiam quatro. Não tenho dúvidas. Portanto não sei o que nos falta. É trabalhar sempre mais e interiorizar que temos que ser sempre superiores aos outros para sermos melhores.
ABR - Mas isso às vezes não chega. Das vezes que falei consigo esta temporada, o Pedroso foi muitas vezes melhor, mas houve sempre algo a puxar para trás. Que apreciação faz das arbitragens do Pedroso esta temporada?
MR - Nós entravamos em campo e éramos amedrontados. Tínhamos uma filosofia de jogo e é preciso ter muita força interior para conseguir aguentar o que os jogadores do Pedroso aguentaram. Falávamos todos os dias e todos os jogos e dizíamos que a disciplina tinha que ser a nossa bandeira e que tínhamos que ser muito superiores para conseguir ganhar. E fomos. Entravamos em campo e começavam com aquelas coisinhas do futebol que até passam despercebidas, não tiravam golos da baliza, não nos marcaram alguns penaltis duvidosos como aqueles que vemos na televisão. Mas o futebol só tem uma lógica. Sé é falta é para marcar. Sé é dentro da área, aos dois minutos, tem que ser marcada. Mas os árbitros têm medo, porque não têm o apoio necessário. Lutam por pontuações que são dadas por pessoas que nem árbitros foram e penalizam alguns e beneficiam outros em prol de favoritismos. Isso não tenho medo de dizer, pois eu cumprimentava o árbitro cada vez que entravamos em campo e ai já sabia quando ia ser prejudicado ou não. Quando ele não conseguia olhar para mim nos olhos, algo se ia passar. É óbvio que apanhamos bons trios de arbitragem, beneficiado não me considero, pois o Pedroso não quer ser beneficiado, as equipas têm que lutar de igual para igual. Foi um pouco isso. Tivemos bons homens a conduzir os nossos jogos, assim como maus homens a conduzir os nossos jogos.
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O técnico, depois da derrota em casa do Vila FC |
ABR - O Pedroso teve então uma fase má, reergueu-se, mas depois voltou a sofrer a perda de três pontos. Como é que se motiva um plantel para trabalhar quando o fazem apenas por gosto e ainda são penalizados em circunstâncias estranhas?
MR - Não foi fácil. Os jogadores queriam desistir, pois lutaram muito naquela fase menos boa onde perdemos muitos pontos, pois caso isso não tivesse acontecido, teríamos sido campeões mais cedo e não precisávamos de esperar por esta decisão. Então não foi fácil, pois quando voltamos ao topo, dizer que vamos perder três pontos. Não sabe o que se passou dentro do balneário, com os jogadores desanimados, exaltados, convencidos de que alguém os queria prejudicar, pois são eles que esfolam a pele à semana e ao fim-de-semana e ainda têm que ouvir coisas menos agradáveis dos sócios e dos adeptos que não são nada fáceis e ainda vão ter que ganhar mais três pontos para suplantar aqueles que perderam. Não conseguimos dizer nada na altura, mas depois voltamos a perguntar se queríamos subir de divisão ou não. O grupo deu as mãos e conseguimos voltar ao trilho das vitórias. Tivemos um jogo difícil no Gondim, mais difícil que frente ao Vila. No Vila, o jogo foi facílimo, apenas não conseguimos marcar. Eu considero aqueles jogadores campeões.
ABR - O mister falou que teve uma conversa com o Presidente na altura em que a equipa passou por um mau período. O mister esteve então para deixar o Pedroso?
MR - Eu abordei, juntamente com os meus colegas, pois é uma atitude honesta da nossa parte se acharmos que o clube não está a ser bem servido, tem que arranjar alguém mais capaz para dar a volta à situação. O Pedroso tem uma excelente equipa e eu também não conseguia perceber porque é que aquilo estava a acontecer. Tivemos uma fase onde não conseguimos ganhar em sete jogos seguidos e eu falei com o Presidente. Mas no fundo, eu sabia que se saísse haveriam jogadores que também iam sair, pois estavam ali pela camaradagem e quando um grupo se começa a desmoronar... O presidente disse-me para não ir e conseguiu convencer-me a ficar e depois a equipa voltou então a entrar nos eixos.
ABR - O fim da época já chegou, mas o Pedroso continua dependente de uma decisão de um jogo que já se deveria ter realizado há dois meses. A Associação decidiu que o jogo tinha que se jogar, mas o Vila e o Pedroso apresentaram recursos por razões diferentes e ainda há dúvidas. Que comentário lhe merece esta situação.
MR - Isto não merece comentários. Acho que estão a brincar com pessoas que trabalham. Depois, também está nos regulamentos, que antes do fim do campeonato tudo tem que estar definido e decidido para que a época acabe correctamente. É óbvio que numa dessas semanas era o jogo do Gondim e ai nada ficou decidido e logo a seguir a esse jogo, sai o resultado do inquérito que existiu aos acontecimentos. É uma casualidade, quero pensar assim, pois estamos a falar de pessoas que percebem muito de futebol, pois quem ocupa estes cargos são sempre as pessoas que mais percebem de futebol. Quem sou eu, um leigo que ainda estou a aprender o futebol, para questionar isso. Não foi premeditado de certeza, foi casualidade…
ABR - Noto alguma ironia nas suas palavras…
MR - Infelizmente não podemos ser irónicos, porque contra factos não há argumentos. E quando eles dizem que sim, temos que acreditar que sim, quando dizem que não, temos que acreditar também ou então não acreditamos, mas eles é que mandam e decidem…
ABR - Contudo, o Pedroso recorreu dessa decisão de mandar repetir o jogo. Qual foi a base desse recurso?
MR - Basicamente o timing da decisão e segundo alguém diz, no relatório do árbitro e também por testemunhas, o Vila FC foi impedido de entrar nas instalações por gestos indevidos que fizeram a pessoas do Cerco. Segundo dizem, foram agredidos alguns jogadores que foram receber tratamento hospitalar. Segundo dizem, vieram dois directores ter com o árbitro para entregar a ficha e que não tinham condições para jogar. Segundo dizem, o árbitro disse que havia condições, assim como a polícia também disse que havia condições para jogar. O Vila FC disse que só tinha 15 jogadores, mas o árbitro também disse que só precisavam de 11 jogadores para entrar em campo. Por isso, segundo dizem, o Vila FC fez falta de comparência. Se calhar, segundo dizem, algo se passou no meio disto tudo que nós não sabemos.
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'Os Campeões' de Manuel Rocha |
ABR - Entrando num lado mais pessoal, o mister está no Pedroso há quatro anos e sempre a lutar para subir de divisão. Já teve algum convite de outro clube?
MR - Não. Estou a ser o mais honesto possível. Não tive nenhum convite, nem do próprio Pedroso, pois ainda não acabou a época. Estou aberto ao grupo com que trabalho. Nada mais se passa para além do Pedroso.
ABR - Mas chega a uma altura em que as pessoas têm outros objectivos, até porque falar do Pedroso é falar do Manuel Rocha. Quais são as suas perspectivas para o futuro?
MR - Eu trabalho numa empresa que me absorve muitas horas. O futebol é um escape, pois é onde liberto muitas das energias negativas do dia-a-dia. O futebol é saudável e faz-me bem e também acho que tenho feito bem ao futebol, porque tenho dado tudo o que acho que tem que ser dado ao futebol, independentemente de ter errado. O melhor que tiramos de uma história, é ver o que fizemos mal e a seguir fazê-lo bem. Eu faço muito dessas análises, falo com os meus colegas, ouço os adeptos e os comentários dos jogadores, dou-lhes oportunidade para eles dizerem o que está mal sem qualquer tipo de penalização. São livres para dizerem o que sentem, mesmo do treinador. O treinador é o que manda, é o primeiro responsável, mas se calhar às vezes é o que menos razão tem. E acho que nesse aspecto a abertura é muito grande, é um espírito de amigo, pois ajudo-os a melhorar o que eles precisam. Estou no futebol porque gosto e quero continuar a fazê-lo porque gosto de o fazer. Tenho sido bastante ajudado pela Comunicação social, principalmente pelo Johnny, que tem sido um amigo, mas se calhar é pela minha sinceridade que gostam de falar comigo, pois sou honesto naquilo que digo. Eu não ando atrás de clubes, não procuro pessoas, não procuro dirigentes. As pessoas conhecem o meu trabalho e se acham que sou capaz de gerir o clube onde estão inseridos, têm que me convidar e cá estamos para conversar. Não ando à procura, pois não tenho o à vontade para isso. Sou treinador de futebol, porque joguei muitos anos e acho que tenho algo de positivo para dar ao futebol e é nesse intuito que continuo. Quando achar que estou a mais, saio.
ABR - Há duas épocas o mister ameaçou e na época passada venceu mesmo o prémio de ‘O Melhor Treinador’ dado pelo jornal ‘O Gaiense’. Como foi receber o prémio, disputando a 2ª distrital?
MR - Os jogadores sentiam-se satisfeitos quando eu ganhava o prémio do mês, prémio que é deles, e ficávamos satisfeitíssimos, quando isso acontecia principalmente porque é um prémio a nível do Concelho. E quando ganhamos o segundo, é óbvio que queremos o primeiro, pois queremos sempre mais. Consegui o primeiro lugar a lutar com treinadores de outras divisões, onde se calhar o futebol é mais ambicioso. E digo se calhar porque não sei como é assim como eles também não sabem como é o da 2ª distrital, onde se joga em campos muito difíceis. Não é fácil e consegui. Este ano volto a estar em boa posição, faltando só a decisão do jogo do Vila, senão já era o ‘Melhor Treinador’. É um orgulho e dou os meus parabéns ao ‘O Gaiense’, pois fazem uma coisa muito bonita, boa e que é preciso no futebol distrital. Tomara que muitos seguissem este caminho pois é isto que faz as pessoas mover-se, pois ninguém ganha dinheiro no futebol distrital. Estes prémios são mais que um ordenado ao fim do mês, pois é um orgulho enorme estar presente no meio de tantas individualidades e ser chamado o nosso nome.
ABR - Apesar de me dizer há pouco que não procura ninguém e que quer ser reconhecido pelo seu trabalho, não o surpreende que ninguém o procure depois de todo o seu percurso nos últimos anos e depois de todas as distinções individuais que já teve?
MR - De alguma forma surpreende-me. Mas o beneficiado acaba por ser o Pedroso, pois eu gosto daquilo que faço, empenho-me naquilo que faço mas como já disse, não procuro. Sinto se calhar alguma estranheza, mas quem sou eu? O futebol é isto…
ABR - Para terminar, queria que deixasse umas palavras a todos os adeptos do Pedroso e aos leitores do blog
MR - O desporto é um divertimento. Todos os intervenientes têm que estar empenhados para ajudar os seus clubes a levar de vencida aquilo que move as pessoas a ir aos campos. Divirtam-se e procurem o divertimento dentro do desporto. Não procurem o mau que está no futebol, mas sim o bom, ou seja, o divertimento, a amizade, a confraternização e acima de tudo o confronto amigo que existe entre as duas equipas. Para o blog, acho que está de parabéns, tem feito um excelente trabalho. Não se esqueça que o difícil é chegar lá, fácil é manter. Alguns dizem o contrário mas eu acho que não, acho que o nome já está consolidado a nível nacional, pois conseguiu dar uma perspectiva muito boa do futebol distrital, visto que 80% do que escreve é sobre o futebol distrital e muita gente a nível nacional lê o que se passa no futebol distrital da AF Porto. Parabéns e continue e tudo o que for possível para ajudar da minha parte será feito. Para as pessoas que mandam no futebol, meditem, pois vão ter que passar algumas noites numa mesquita a pensar o que querem do futebol nacional. Que pensem no que existiu no futebol nacional na década de 80 e o que existe agora. São as mesmas pessoas que estiveram em 1980 e que estão agora. Em 20 anos passamos por uma fase de transformação positiva, conseguimos chegar ao topo e hoje não conseguimos ganhar nada em termos de camadas jovens. Alguma coisa está mal, deixem-se de compadrios e pensem no que está mal no futebol.