8 de julho de 2011

Entrevista Com - Óscar Nogueira (Treinador do Grijó)

O 'Entrevista Com' está de volta e desta feita a escolha recaiu sobre Óscar Nogueira, treinador do Grijó. Ao longo desta entrevista exclusiva ao 'A Bola é Redonda', o técnico expressa toda a sua felicidade pela subida à 3ª Divisão Nacional, abordando também algumas contrariedades que sofreu ao longo de uma temporada difícil nomeadamente a saída do Penantes, peça fundamental no ataque grijoense, mas também o que espera para o futuro. Uma entrevista a não perder.
Óscar Nogueira estará na 3ª Divisão Nacional na próxima época 

A Bola é Redonda (ABR) - Boa tarde Óscar Nogueira. Para começar queria um balanço da época, onde acabou por atingir o objectivo principal, que era a subida de divisão.

Óscar Nogueira (ON) - Foi efectivamente uma época difícil, pois havia quatro ou cinco sérios candidatos à subida. Íamos para uma novidade, que era ao fim destes anos todos jogar pela primeira vez em casa. O prémio que dei aos jogadores em termos de motivação e o desafio que lhes lancei, foi entrar no meio dessas quatro ou cinco equipas fortes que sabíamos que iam ser candidatas, para sermos também um dos fortes candidatos à subida. Nesse aspecto foram fantásticos e de uma entrega total ao longo da época, fomos alargando os horizontes e vendo com mais proximidade esse objectivo. Tivemos um adversário forte e regular, que foi o Infesta e a partir daí, acho que fomos os mais regulares e os mais fortes. Foram as duas melhores equipas que se conseguiram impor aos outros adversários que tinham mais poder e se calhar mais qualidade a nível de estrutura que nós, mas aproveitamos as partes mais fracas e deles e conseguimos ultrapassa-los.


ABR - Como disse há pouco foi uma época em que jogaram em casa. Foi um factor de motivação extra?

ON - A minha preocupação no campo próprio era o factor ansiedade. Sabemos que temos uma massa associativa exigente, sabíamos que tínhamos alguma margem de erro em anos anteriores, devido a não treinarmos e não jogarmos em casa e sabíamos que nos iam cobrar isso, como aconteceu. Os nossos adeptos cobraram sempre desde o primeiro até ao último dia, o facto de jogarmos em casa e então daí faziam de nós já por si um candidato. Mas também a imagem que deixamos noutras épocas, de que se tivéssemos campo, efectivamente íamos ser candidatos sérios. Tivemos que assumir isso e superar eventualmente algumas falhas que tínhamos relativamente a outras equipas, com trabalho e dedicação e essencialmente, com concentração nos momentos certos. Mas acima de tudo, penso que foi a regularidade. Só para termos alguns números, nós tivemos 11 vitórias em casa e 9 fora. Tivemos 1 derrota em casa e quatro fora e duas numa fase final do campeonato, já numa altura em que existia alguma descompressão devido à margem de erro que tínhamos relativamente aos adversários. Isto demonstra o equilíbrio que houve. Mas o facto de poder treinar e jogar em casa foi uma injecção de moral para o grupo, sem dúvida.


ABR - O Grijó foi a melhor defesa do campeonato. De alguma forma deixou-o satisfeito esse facto?

ON - Sim. Não trabalhamos para ser a melhor defesa ou o melhor ataque. Trabalhamos para objectivos colectivos. Mas se fizermos uma análise às épocas anteriores e mesmo voltando ao assunto de não treinar em casa, há dois anos também fomos a melhor defesa, apesar de ficarmos em sexto lugar, o ano passado não fomos, fomos a terceira, mas isso quer dizer que a nível táctico e de estrutura, a equipa é montada de forma consistente no sector defensivo e faz com que sofra poucos golos. É evidente que é positivo, pois sou apologista que a equipa deve ser feita de trás para a frente e por sectores e o Grijó, de há uns anos a esta parte, a nível defensivo, mostra sempre alguma resposta positiva e alguma força defensiva. Fico satisfeito por ter atingido isso. Tenho pena por não termos sido o melhor ataque, mas fomos a segunda melhor equipa a jogar em casa, fomos a segunda melhor equipa em termos de série de jogos a vencer e conseguimos algumas coisas positivas ao longo do campeonato, como ser a melhor equipa, a par do Infesta, com menos derrotas no campeonato.


Dani foi o melhor marcador do Grijó
com 15 golos apesar de ser
médio de raiz
ABR - Disse que gostava de ter sido o melhor ataque e nesse particular, o melhor marcador da equipa foi o Dani, que é médio e que tem caracteristicas de trinco. Como explica que seja esse jogador o melhor marcador e não um avançado?

ON - Temos que puxar um pouco a fita atrás. Esta época teve duas pré-épocas. Começamos a trabalhar duma forma sistemática, com três jogadores com essas caracteristicas, dando mais ênfase ao Bruno Faria e ao Penantes. Mas à quinta jornada ver-me privado do Penantes, que fez com que automaticamente trabalhássemos uma forma de estar no campo diferente. O Bruno Faria ficou órfão de um jogador com caracteristicas idênticas às dele e começamos a trabalhar de forma diferente, alterando o sistema e a estrutura da equipa, o que fez com que os médios estivessem mais próximos das segundas bolas e que fizessem mais desequilíbrios ofensivos. Quanto ao Dani, ele é um jogador bastante inteligente dentro de campo e não tenho problema de lhe dar o título de melhor jogador da Divisão de Honra. Sei das capacidades dele, ele tem uma facilidade de remate grande, é evidente que desses 15 golos contribuíram seis de grande penalidade, mas mesmo retirando-os, igualava o Bruno Faria que tinha novo golos e era o segundo melhor marcador. O Dani é um jogador que lê bem o jogo, sabe-se posicionar, sabe adivinhar os lances e onde as bolas podem cair e a maior parte dos golos que fez, foram da segunda linha, onde ele também é forte. É caricato, mas tem a ver com a qualidade que o Dani tem na leitura do jogo e da liberdade que tem.


ABR - Relativamente ao Penantes, em Dezembro ele acabou por sair. Foi uma baixa importante para o Grijó?

ON - Sim. O Penantes sabe o que penso dele. Além de nos ter penalizado colectivamente, também penalizou na qualidade de finalização. O Penantes é um jogador forte, com caracteristicas que poucos têm e a prova disso é o salto que ele vai dar em termos de divisão. É um jogador com facilidade de remate, forte fisicamente, rápido, tecnicamente evoluído, por isso era uma mais-valia que íamos aproveitar este campeonato. Saindo o Penantes, não modificamos os objectivos, apesar de termos mais dificuldades pois não tivemos substituto. Mas ai funcionou o trabalho da equipa técnica, tentando galvanizar outros jogadores para poder colmatar a saida desse jogador. Felizmente as coisas correram bem.


Penantes foi uma baixa importante
no onze grijoense
ABR - Ainda nesse assunto, o Penantes foi sempre primeira escolha do Óscar e acabou por sair. O que é que aconteceu em concreto para ele deixar o Grijó?

ON - Há alturas da vida em que cometemos erros graves. Penso que ele, um mês depois de ter saído, já o tinha assumido. Assumiu isso comigo, por isso, acho que não terá problemas em assumi-lo publicamente. Ele precipitou-se, houve um momento de quebra emocional onde achou que ia perder espaço no Grijó. Tentei conversar com ele, mas ele achou por bem que deveria mudar de ares e nós não podíamos contraria-lo. Deixamo-lo sair e desejamos-lhe boa sorte. Hoje ele sabe o que pensamos dele e eu também sei que ele pensa de mim e do clube. Acho que foi um erro que fez com que ele crescesse, mas felizmente que não o penalizou em termos de carreira pois ele deu o salto que eu sabia que ia dar e de certeza que vai ser feliz no futebol, porque ele procura isso. Estamos todos bem e eu estou feliz por ele ter dado o passo que deu.


ABR - Ainda no capítulo dos jogadores, foi anunciada a entrada do João Peixe na mesma altura, mas acabou por ir para Perafita. O que aconteceu?

ON - Isso foi uma precipitação em termos de interpretação, tanto da nossa parte como da Comunicação Social. O que aconteceu foi que o Peixe quando saiu do Custóias ainda não podia ser inscrito, pois faltavam 15 dias para abrirem as inscrições. Na altura, ele treinava no Candal para manter a forma e para tentar colmatar a saida do Penantes, convidei-o a manter a forma em Grijó e quem sabe, poderia ser ele a pessoa a colmatar essa carência. Ao fim de meia dúzia de treinos, chegamos à conclusão que, nem nós íamos satisfazer a parte financeira dele, e se calhar ele também não ia satisfazer na totalidade a nossa parte desportiva. Mais uma vez foi um assunto com uma lisura fantástica, hoje temos um relacionamento excepcional e ganhamos uma amizade mas não ganhamos um jogador.


ABR - Ainda nesta época, há um jogo que se pode dizer que é marcante. A recepção ao Infesta, que é onde acontece a primeira derrota dos matosinhenses e onde o Grijó conquista a segunda posição. Foi esse o jogo decisivo que marcou o arranque para a subida?

ON - Eu diria que este campeonato foi marcado em três jogos. Um, que para mim foi decisivo e onde assumimos que tínhamos espírito para lutar pela subida, que foi à sexta jornada em São Pedro da Cova. Depois de em cinco jornadas onde conseguimos apenas duas vitórias, um empate e duas derrotas, o que é muito para uma equipa que tem objectivos, decidimos juntar-nos e propusemos desafiar esses resultados e arrancar para uma recuperação, que se veio a verificar pois em 27 jogos perdemos um e isso veio mostrar o espírito que o grupo assumiu. Nesse jogo vencemos por 3-0. Depois, uma prova real do nosso valor, que foi esse jogo do Infesta. Não tínhamos como meta ser a primeira equipa a derrotar o Infesta, mas tínhamos como meta mostrar que tínhamos equipa para derrotar o Infesta, o que é diferente. E foi isso que pedi ao grupo. Sabíamos que o Infesta era uma equipa onde teríamos que ser fortíssimos para os ultrapassar, mas também acreditava que se estivéssemos ao nosso nível poderíamos ultrapassa-los e assim aconteceu. Acabamos por ter a sorte do jogo, mas acho que foi a resposta ao nível de resultado, ao jogo da primeira volta onde estivemos melhor na maior parte dos momentos do jogo e perdemos. Na segunda volta, segundo o seu treinador, o Infesta fez dos melhores jogos do campeonato e perdeu. É evidente que foi um comprovativo do nosso real valor. E por último, onde penso que foi o comprovativo final da nossa segurança no segundo lugar, foi quando visitamos o Lixa. Tínhamos apenas dois pontos de vantagem, sabíamos que se perdêssemos, o Lixa ultrapassava-nos e eu desafiei o grupo, dizendo que tínhamos que vencer e mostrar se éramos ou não donos do segundo lugar. Acabamos por fazer um jogo fantástico. É o jogo que posso classificar de melhor do campeonato, onde estivemos quase perfeitos tacticamente, tecnicamente muito bem e onde soubemos interpretar os momentos do jogo como foi pedido. Fomos defensivamente quase inultrapassáveis e fomos crescendo gradualmente com o decorrer do jogo. Anulamos o Lixa tacticamente e depois superamos tecnicamente. E foi aí, aumentando a vantagem para o terceiro para cinco pontos, que praticamente demos a nós próprios a ideia de que seria difícil perder o segundo lugar. Por isso classifico estes três jogos como marcantes ao longo do campeonato.


ABR - Este ano houve três equipas na Divisão de Honra, o Grijó, o Arcozelo e o Avintes. As últimas duas desceram de divisão. Surpreendeu-o a época menos conseguida destes dois clubes?

ON - De alguma forma sim. Essencialmente a forma de gestão. Não posso fazer juízos de valor sobre a organização dos clubes, como é óbvio, quem sou eu, mas penso que o trajecto nos últimos anos merecia outro tipo de atenção em termos de gestão. Em termos desportivos, avaliando os planteis e alguns discursos de assumir esse mesmo desfecho, acho que não surpreendeu. Agora, é com alguma mágoa que vejo esses clubes, com alguma imagem no futebol gaiense e que nos últimos anos têm dado resultados positivos, cair na 1ª distrital. Agora, o trabalho interno e a gestão e organização dos clubes, já não posso avaliar. Fico triste e surpreendido.

João Peixe esteve perto de representar o Grijó em Dezembro último

ABR - O Grijó acabou por ficar em segundo lugar. Acha que o Grijó tinha valor para mais?

ON - Acho que o Grijó tinha valor para mais e continuo a dizer que a diferença pontual final equivale às cinco primeiras jornadas. Nos acabamos o campeonato com 10 pontos de atraso, mas à quinta jornada tínhamos oito. A partir daí, fomos a melhor equipa na segunda volta, fizemos mais cinco ou seis pontos que o Infesta nesta fase, por isso, nós é que demos tiros nos pés. Avaliando o campeonato de uma perspectiva de regularidade, acho que o título foi bem entregue ao Infesta, pois foram os mais regulares. Se avaliarmos de uma forma de grupo e de trabalho, acho que se o Grijó tivesse outra prestação nas primeiras cinco jornadas, teria havido luta até ao final para entregar o título. Mas não tenho dúvidas que seriam as mesmas equipas a subir de divisão, porque foram as melhores em todos os sentidos.


ABR - Entrando agora numa nova realidade, o Grijó regressa à 3ª Divisão 20 anos depois da última participação. Quais são as expectativas para a próxima época?

ON - Essencialmente, tentar fazer um crescimento sustentado. Aquilo que eu quero neste clube e o desafio mantém-se, e que a ambição não vai parar por termos atingido a 3ª Divisão. Quero transmitir isso aos meus jogadores, não chegamos ao limite de nada, conquistamos mais um objectivo e agora vamo-nos propor para outros objectivos. Não estamos a assumir nada, estamos a assumir um compromisso de tentar que o clube fique nos nacionais o maior período de tempo possivel e o passo seguinte será então pensar numa 2ª Divisão. Mas temos que dar um passo de cada vez. Ainda não chegamos à terceira, vamos entrar numa terceira divisão, sabemos que as dificuldades vão ser diferentes, a capacidade financeira de outros clubes será superior à nossa, mas isso não nos retira ambição. O objectivo passa por ficar nos primeiros seis lugares, por ganhar estatuto e respeito das outras equipas, e apenas somos candidatos assumidos a ganhar o primeiro jogo. Não temos ambição de disputar já uma nova subida de divisão, somos ambiciosos, mas queremos que o clube seja respeitado à chegada à 3ª divisão. O resto vem por acréscimo.


ABR - Normalmente diz-se que é indiferente a série onde se joga, mas as equipas de Gaia têm oscilado entre a Série B e a Série C. Temos exemplos de equipas que jogaram na Série C e subiram ou estiveram para subir e a jogar na Série B acabaram por descer de divisão. Sabendo que não é uma decisão sua, onde prefere jogar? Na Série B ou na Série C?

ON - Tenho quase a certeza que vamos jogar na Série B. Tenho um ponto de vista diferente dessas perspectivas. Sabemos, e não vamos esconde-lo, futebolisticamente a Série B é mais forte. Tem equipas com outro tipo de poderes para contratar jogadores, são muito mais recheadas em termos de qualidade técnica e táctica, mas isso também ajuda ao crescimento do clube. Poderemos ter mais dificuldades em chegar aos seis primeiros lugares, mas em termos de concentração em cada jogo, vai fazer com que o clube se entregue mais. Sabemos que na Série C, a nível de futebol, este deixa de ser mais bonito e mais facilitado a nível de conquista, mas também se calhar a nível de visibilidade, o clube não teria um crescimento tão grande. Temos que ver os desafios pela positiva e não pela negativa. Jogando na Série B, o que temos que saber é que temos que estar concentrados e empenhados em todos os jogos, para ultrapassar nos pormenores as equipas que sejam eventualmente mais fortes que nós. Em termos de objectivos, são os mesmos independentemente da série onde jogarmos.


ABR - O Grijó não fez, até ao momento, algo que muitos clubes fazem, que é reformular o plantel por inteiro. O facto de conseguir manter o grosso da equipa dá-lhe garantias para a próxima temporada?

ON - Essencialmente dá-me uma grande satisfação, pois acredito em pleno nos meus jogadores. Os que ficaram, ficaram pelo trabalho que têm desenvolvido no Grijó, pela confiança que me têm transmitido nos valores humanos e desportivos e essencialmente pelo carácter que tiveram nestas últimas épocas. Tenho a certeza absoluta que os 15 jogadores que ficaram, são mais-valias e tenho a certeza que o mesmo trajecto que me ajudaram a fazer como treinador no Grijó, também o conseguem por estar na 3ª Divisão. Não fiquei com todos porque como é óbvio, nestas coisas há que fazer sempre equilíbrios e acertos. Mas os 15 jogadores que ficaram, foi porque acho que têm qualidade e acredito neles para fazer um campeonato ao nível do que pretendemos.


ABR - Este ano os dois representantes gaienses que estavam na 3ª divisão desceram. Isso virá de alguma forma, prejudicar o Grijó em termos de receitas?

ON - Essa parte não me cabe a mim responder. Mas toda a gente sabe que os derbies gaienses são sempre apetecíveis. Tanto a nível desportivo como financeiro e de atractivo, pelo que representa para a cidade de Gaia. Não vamos ter esses, vamos ter outros jogos interessantes. Vamos ter equipas com nome e com pergaminhos no futebol português e de certeza absoluta que para o Grijó, sendo uma novidade, todos os jogos têm que ser vistos dessa forma, como um dérbi, não interno, mas como uma chamada a Grijó de equipas que andaram já em patamares superiores do futebol português. Lamentamos que de facto, não haja os derbies gaienses e era com muito gosto que os recebíamos, mas penso que financeiramente, o clube terá que arranjar outros atractivos para compensar essas falhas eventuais dos clubes de Gaia.


ABR - O Óscar já está no Grijó há seis temporadas. Normalmente, depois de tanto tempo, há sempre uma necessidade de mudar de ares. Ainda não sentiu essa necessidade?

ON - Necessidade não. Por vezes a curiosidade acontece. Agora, há uma coisa que me habituei no futebol e que faz parte dos meus princípios vida, que é trabalhar com gente séria, com pessoas que têm objectivos vincados e que são ambiciosas. Com todo o respeito que tenho por todos os clubes, cada vez existem menos com estas caracteristicas. Abordagens superficiais existem sempre, mas quando entramos em campos mais objectivos, as pessoas fogem sempre mais um pouco ao que se pretende. Em Grijó isso não acontece, pois eu sei o que a direcção pensa em relação ao clube e em relação ao que posso dar ao clube e assim as coisas ficam facilitadas em termos de renovações e de manutenção de planteis. A curiosidade é sempre uma coisa que faz parte do nosso ser. Quando me perguntam se gostava de sair para outro projecto, tenho essa curiosidade, pois sei o que posso dar ao futebol e o que posso fazer noutro clube. Agora, tinha que ser um clube que me apresentasse um projecto na linha do que o Grijó sempre me apresentou, com pessoas sérias, objectivos bem definidos, estrutura razoavelmente montada para atingir esses objectivos e capazes de conseguir ultrapassar as dificuldades que os adversários nos pusessem pela frente. Curiosidade sim, mas ainda não me falta motivação para ter que deixar o Grijó.


ABR - Fazendo um balanço de carreira, está satisfeito o que já atingiu ou acha que poderia ter chegado mais longe?

ON - Por vezes com o excesso de humildade tornamo-nos parvos. Só posso dizer que ao fim de dez anos como treinador tenho cinco subidas de divisão. Só posso estar satisfeito com o que já realizei. Nestas cinco épocas em Grijó, e relembrando que na primeira descemos de divisão e começamos do zero, agora estamos na 3ª Divisão. Tenho que estar feliz por o que tenho realizado, essencialmente no Grijó. Acho que a imagem do clube neste momento, passa um bocadinho por mim e isso faz-me sentir feliz. Em termos pessoais, para além de me sentir realizado com o que conquistei até agora, é evidente que pretendo alcançar mais coisas. Tenho uma meta pessoal, que passa por estar a treinar aos 45 anos uma equipa da 2ª Nacional, essa é a próxima meta e não ponho fora de hipótese que seja atingida com o Grijó, mas também não deixo de fora a possibilidade de ser com outro clube. Neste momento a minha cabeça e os meus objectivos passam pelo Grijó, mas é evidente que quero mais do futebol e quero crescer mais, mas não tenho pressa de chegar a lado nenhum. Quero sentir que o que conquisto, são coisas conquistadas por mim e que ninguém me deu nada. Tudo o que conquistamos até agora, eu e os meus adjuntos, foi por nós e sem a ajuda de ninguém. Tudo o que sou no futebol devo-o exclusivamente ao meu trabalho.


ABR - Para terminar, uma palavra para os sócios e adeptos do Grijó e para os leitores do blog.

ON - Para os adeptos do Grijó, essencialmente, pedia-lhes para apoiarem, se possivel mais, a equipa. Garanto que têm homens para defender o clube com todas as suas forças e estão sempre disponíveis para dar uma imagem positiva, tanto da terra como do clube. Quanto ao blog, dar os parabéns pelo crescimento que se tem notado dia após dia, principalmente a nível de pesquisa que as pessoas fazem, pois isso mostra a capacidade de resposta que o blog tem. Eventualmente, solicitar alguns apoios que possam haver, pois sabemos que tudo está difícil e que para o crescimento das coisas tem que haver sustentabilidade e penso que o blog não foge à regra. Penso que é este tipo de coisas que faz com que o desporto gaiense cresça e tenha uma aparição mais frequente, que tenhamos mais facilidade de aceder a estes espaços para ter mais informação, principalmente ao desporto não primário, isto é, não falando da Primeira e Segunda Liga. Felicito o blog e incentivo as pessoas a darem mais apoios a este tipo de situações.



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