César Pinho mantém-se no comando técnico do São Pedro da Cova nesta época que terá início brevemente. O treinador gaiense continua assim um trabalho que começou a desenvolver ainda durante a época passada e que culminou com a permanência da equipa na Divisão d'Elite Pro Nacional, ainda que por via administrativa, beneficiando da desclassificação do Lousada por incumprimentos administrativos.
César Pinho, que tem larga experiência como treinador das camadas jovens, concedeu esta entrevista ao blog onde fala dos desafios que teve quando chegou ao clube e também dos futuros, mas sempre com os pés bem assentes na terra, tendo em conta o estado actual do clube gondomarense.
Veja as palavras do técnico em mais um exclusivo do 'A Bola é Redonda'.
César Pinho (dir.) vai continuar a desenvolver o seu trabalho no São Pedro da Cova |
A Bola é Redonda (ABR) - Chegaste ao clube num contexto complicado. A equipa lutava pela permanência e acabaste por garantir esse objectivo, ainda que por via administrativa. Faz-me um balanço da época do São Pedro da Cova.
César Pinho (CP) - A época do São Pedro ficou marcada, sobretudo, pela promoção do clube á Elite, por via da reformulação dos campeonatos. Parece-me que não estavam reunidas condições, para num espaço curto de tempo, promover a equipa desde a Divisão de Honra a uma realidade onde não tinha os meios mínimos para competir com equipas que, por exemplo, saíram da extinta 2ª Divisão Nacional.
Na viragem do ano, o grupo estava claramente marcado por um registo que não correspondia á qualidade do mesmo, nem de quem o liderava. Embora seja um tema sob o qual não esteja profundamente habilitado a falar, as razões para a baixa performance eram de natureza diversa, para além do espaço treino, onde os atletas -pelo menos comigo, e quase sempre, sem excepções - foram briosos.
Mentalmente torna-se complicado, no meio de um começo com dez derrotas em 15 jornadas, criar confiança. E nestes momentos, é comum tudo acontecer a estas equipas.
Vários foram os jogos onde a equipa perdeu pela margem mínima, e isso reforça a ideia que passei acima. Perante a vitória, as dificuldades são ultrapassadas, ou pelo menos o foco dado é menor, logo cria estabilidade. Já sob a derrota, e nas mesmas circunstâncias, a tendência é empolar a realidade que participa/não participa, no rendimento colectivo do treino/jogo.
Resumidamente, todos os que participaram de modo (in)directo no clube, foram responsáveis, de uma maneira ou outra, por todas as dificuldades que passamos, e que são públicas. Para se ter uma ideia final, durante esta época, a possibilidade do clube encerrar, não esteve assim tão distante.
ABR - É sabido das dificuldades do clube, nomeadamente a nível financeiro. Correu o rumor que a equipa poderia até nem terminar o campeonato, mas tal não se verificou. Quais foram as tuas maiores dificuldades desde que estas no comando da equipa?
CP - A questão é válida, e o rumor também, disse-o já atrás até. Que dificuldades encontrei? Diversas, muitas, todas diferentes. Assaltos a material de treino, de jogo, de higiene pessoal, de manutenção. A falta de receitas, pese embora a vontade em contornar este elemento.
Constante alteração dos elementos no grupo, por via do fluxo entradas/saídas, ora por esta razão, ou por aquela. A falta de um Homem para o Futebol, que retirasse das mãos dos treinadores, tarefas para as quais não têm que estar obrigatoriamente preparados. Comunicação nula, ou incoerente. Não definir prioridades/objectivos. Necessidade de educar um ou outro elemento, de que as necessidades da equipa, estão acima dos seus interesses/ambições pessoais.
Treinador Gaiense mostra-se feliz ao liderar este projecto |
CP - Este plantel foi construído para jogar na Divisão de Honra. Tenho a certeza absoluta que, nenhuma das 20 Equipas terá um orçamento tão baixo quanto a AD São Pedro da Cova.
Claramente o nosso desafio passa por manter o clube, e promover os nossos jogadores. Garantir que estes, ficam habilitados a competir contra quem for, onde quer que seja. Dar-lhes comportamentos/ferramentas, que amanhã os tornem mais completos.
Colectivamente, ajustaremos sempre, de modo constante, domingo a domingo, mediante a classificação, as condições para que nos possamos promover ainda mais, ou proteger. Depende muito do efeito que o nosso trabalho provocará nos nossos jogadores, da abertura destes, do trabalho dos outros, mas sobretudo do equilíbrio emocional. Ou seja, de compreendermos que, por muito que possamos ter feito num determinado jogo, isso não seja sinónimo de vitórias...
Conviver neste meio, e com o sucesso ou falta dele, é provavelmente o maior desafio entre os objectivos. A capacidade de nos mantermos concentrados no que fazemos de bem, de mal, evitando viver acima do que valemos, ou abaixo disso.
A manutenção é o principal objectivo do clube para esta época |
ABR - O plantel já se encontra fechado e a media de idades ronda os 23 anos. Numa prova longa e exigente, como é a Divisão d'Elite, achas que esse item será uma vantagem ou desvantagem?
CP - O nosso plantel está fechado. Parece-me mesmo impossível que alguém possa entrar. A idade nunca é sinónimo de nada, embora possa realmente ser significado de maturidade, experiência. Preocupa-me mais criar abertura no grupo, para que se sintam motivados num espaço de tempo de maior, e com isso estejam mais perto da sua forma. Não da física, que também é importante, mas sim da resposta aos estímulos que o jogo cria.
Não olho para essa média de 22,7 anos, como algo que me preocupe, sinceramente. Nós não temos as armas que os adversários têm, embora nos tenhamos comportado no 'mercado', com respeito. Mesmo que os outros não o tenham connosco, e mesmo que isso nos possa enfraquecer, o nosso carácter ninguém nos tira. Não é uma questão de moralismos, é um facto.
Independentemente do futuro, sublinhar que estão connosco os que nós escolhemos, dentro de regras muito complicadas para formar um grupo com 22 atletas.
Eu acabo por ficar grato de viver esta experiência, sabendo contudo que, não prometemos o que não temos. Essa foi a condição para continuar, cumprir com os jogadores, e mudar a imagem do São Pedro da Cova, que muitas vezes é confundida com as pessoas que se dedicam a ele, como que para se fazer parte do clube, tenha que se ser incompetente. Completamente errado.
ABR - O São Pedro da Cova já esteve nas divisões nacionais. Achas que o clube réu e condições para num futuro próximo retornar a estes escalões?
CP - A questão é fácil de Responder. O Clube não tem minimamente condições para jogar CNS. Estamos a falar de dinheiro, receitas, patrocínios, estrutura, formação, etc.
A realidade é que o São Pedro da Cova vive com o que pode e tem um papel muito importante na promoção do seu meio, das suas gentes, tem uma cultura bem clara e bairrista, que lhe dá um toque diferente dos restantes.
O Clube é uma montra para muitos. Basta perceber que, mesmo perante a realidade do São Pedro, não falta quem o queira servir.
Mais importante do que alimentar expectativas irrealistas, é mesmo conhecer a realidade, agir em função dela, e promover todos os seus agentes, mas sobretudo a freguesia.
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