27 de dezembro de 2023

DO BARCELONA AOS DISTRITAIS DE AVEIRO

Agostinho Cá, de branco, e Edgar Ié, assinaram pelo Barça em 2012

O futebol não é o conto de fadas que muitos pensam que seja. Que o diga Agostinho Cá, médio de 30 anos, atualmente a jogar no Canedo FC, equipa do Campeonato Sabseg, a divisão mais alta dos distritais de Aveiro. Na já longínqua época 2011/12, os juniores do Sporting participaram na NextGen Series, a competição que antecedeu a UEFA Youth League. Nessa equipa, que curiosamente viria a ser campeã nacional nessa temporada, despontavam vários nomes de jogadores conhecidos: Ruben Semedo, Tiago Ilori, Ricardo Esgaio, Tobias Figueiredo, João Mário, Carlos Mané, Bruma, Betinho, Iuri Medeiros, Alexandre Guedes, entre muitos outros, treinados, numa primeira instância por Sá Pinto e, posteriormente, por Abel Ferreira. O Sporting venceu o grupo onde estava inserido, somando cinco vitórias, um empate e uma derrota. Somou 16 pontos, deixando o Liverpool segundo classificado, a nove pontos de distância. Os jovens leões cairiam na fase seguinte, nos quartos-de-final, ao perder com o Inter de Milão, que viria a ganhar a primeira edição dessa competição.

Porém, em junho de 2012, surgiram as primeiras notícias que davam conta do interesse do Barcelona em dois jogadores daquele plantel de Sub 19 do Sporting. Os nomes de Agostinho Cá e Edgar Ié passaram a estar na ribalta, tanto é que também se noticiou o interesse do próprio Inter de Milão, mas também do Real Madrid. “Em 2012, durante o Europeu de sub-19, ligaram-me a dizer que o Barcelona e o Inter estavam interessados em mim. Eu nem queria acreditar, disse que duvidava que fosse verdade. Quando voltei a Alcochete disseram-me que as negociações com o Barcelona estavam adiantadas. Na altura nem tive dúvidas, mas acredito que o meu futebol encaixava melhor no futebol italiano”, disse o jogador, numa recente entrevista ao site Mais Futebol. Mas era mesmo verdade. 

Em julho desse ano, foram oficializadas as vendas de Agostinho Cá e de Edgar Ié ao Barcelona. Os jogadores começariam por jogar na equipa B, mas a ideia, na altura, era chegar à equipa principal. Edgar Ié, hoje no Basaksehir, da Turquia, ainda chegou a representar a equipa principal do Barça, num jogo da Taça do Rei. Mas Agostinho Cá nunca teve essa sorte. “As lesões também não me ajudaram no Barcelona. Nem um bocadinho. Ainda me lembro da primeira vez que fui chamado para treinar na equipa principal. Estavam lá os craques todos: Messi, Puyol, Busquets, Xavi. O Messi era top! Incrível! Joga muito, nem sei explicar. No primeiro treino fiquei na equipa dele, mas nem tinha confiança, ali no meio dos craques todos. Ele disse-me que isso era normal, que eu era jovem, mas para tirar esse pensamento da cabeça e jogar o que sabia. Os problemas no menisco condicionaram-me bastante. Estava mesmo em baixo. Eu recuperava, mas depois chegava aos treinos e tinha dores. Fui emprestado duas vezes, ao Girona e ao Lleida, mas não tive oportunidades”, contou o jogador na mesma entrevista ao Mais Futebol. 

Acabada a ligação ao gigante espanhol, a carreira de Agostinho Cá sofreu algumas opções menos
positivas. Jogou no FC Stumbras, da Lituânia, ao longo de duas épocas, mas acabou por preferir regressar a Portugal, onde representou o Cova da Piedade, mas sem muito sucesso. Voltou a tentar o estrangeiro, assinando pelo Shabab Bourj do Líbano, mas pouco depois pediu para regressar a Portugal. Na época 2020/21, representou o Fontinhas dos Açores, no Campeonato de Portugal e, na época seguinte, no Vitória de Sernache da mesma divisão. Há duas épocas que veste a camisola do Canedo. “No início da carreira faltou-me acompanhamento, ter as pessoas certas à minha volta. Sinto que me faltou isso. Hoje em dia estaria numa situação bastante melhor, mas não vou ficar a chorar sobre o leite derramado. Ainda há tempo para qualquer coisa, com o talento que eu tenho. E a vontade é grande”, afirmou Agostinho Cá, ainda ao Mais Futebol, em entrevista concedida em fevereiro de 2022.

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