Fred deixou o Arcozelo, que está a atravessar um período difícil, de consciência tranquila. O treinador aborda algumas questões menos conhecidas do público em geral, como os ordenados em atraso e as dificuldades no último terço da prova, que levaram a equipa a classificar-se apenas na 7ª posição, quando o objectivo passava pelo quinto lugar.
Mais uma entrevista exclusiva do 'A Bola é Redonda'
A Bola é Redonda (ABR) - Fred, antes de mais, gostava que me fizesses um balanço da temporada.
Fred - Em relação ao balanço da época, foi uma temporada bastante positiva, quer a nível individual quer colectivo. O Arcozelo teve o melhor plantel de sempre, não só a nível de qualidades técnicas e tácticas mas também humanas. O principal objectivo que a Direcção me exigiu e que passava pela manutenção, foi conseguido ao sexto jogo da segunda volta e conseguimos a segunda melhor classificação de sempre desde que o clube está na Divisão Honra.
ABR - Tendo em conta algumas situações, o Arcozelo poderia ter realizado uma época melhor?
Fred - O Arcozelo ficou atrás dos principais candidatos à subida, excepção feita ao S.Pedro da Cova. Eu sempre acreditei e motivei o plantel para conseguir atingir o quinto lugar, que infelizmente não conseguimos. Posso dizer que o perdemos na recta final, por razões que todos conhecem. E os jogadores fizeram tudo o que era possível para o alcançar.
ABR - A equipa no início da segunda volta entrou com o pé quente, alcançando duas goleadas. Que mudou da primeira volta para esta fase e porque é que depois a equipa não deu continuidade, voltando à intermitência?
Fred - A equipa era completamente nova, só ficaram sete jogadores da época anterior e era necessário um período de adaptação. Eu implantei um sistema e modelo de jogo que praticamente nenhum deles jogava, os métodos de treino também foram completamente diferentes e é óbvio que tudo isto precisa de tempo, por isso as nossas dificuldades na primeira volta. Sabíamos que a segunda volta seria muito mais complicada e era necessário acrescentar mais alguma experiência e ajustar a equipa em algumas posições em que estava carenciada. E isso foi feito, com a entrada do Marco, do Rabaça e do André Filipe, que sem dúvida nenhuma vieram potenciar ainda mais a grande qualidade que existia no plantel. Entramos muito fortes na segunda volta, com duas goleadas e quatro vitória seguidas, e penso que as duas derrotas consecutivas que tivemos contra o Grijó e Alpendorada quebraram a equipa em termos anímicos, até porque já começavam a surgir na altura alguns problemas internos, principalmente os ordenados em atraso. E a partir deste momento as coisas começaram a complicar-se, até porque os jogadores já não queriam treinar, demonstravam o seu desagrado pela situação em si e não foi fácil para nós (equipa técnica) solucionar os problemas que estavam a surgir semanalmente. Tivemos que fazer um grande trabalho psicológico para manter a equipa a um nível minimamente exigível, até porque chegou uma altura que só treinávamos duas vezes por semana, o que complicou ainda mais, porque os nossos índices físicos quebraram. Não foi por acaso que nos últimos seis jogos, em quatro deles sofremos golos já na parte final do jogo, que nos penalizaram e retirou-nos mais seis ou sete pontos. Por isso se explica a intermitência a partir do meio da segunda volta. E acredito que a equipa tinha condições mais que suficientes para no ultimo terço do campeonato conseguir outra classificação que não o 7º lugar.
ABR - Alguma vez chegaram a pensar que poderiam intrometer-se na luta pela subida?
Fred - Não. Isso nunca. Porque sei que para lutar por uma subida de divisão não basta ter uma grande equipa, é preciso uma retaguarda muito forte. De todas as 18 equipas da Honra nós éramos o terceiro plantel com o orçamento mais baixo, sabíamos que existiam equipas com mais argumentos financeiros, que tinham um outro peso que o Arcozelo não tinha.
ABR - A equipa terminou a época num mau momento de forma, não conseguindo vencer nenhum dos últimos seis jogos. Que aconteceu na recta final da prova?
Fred - O que aconteceu foi o que expliquei atrás. Uma equipa que só treina duas vezes por semana num campeonato tão exigente como a Honra, não pode e não consegue ganhar, ainda por cima nesses seis jogos, quatro deles eram com equipas que lutavam desesperadamente pela manutenção, e um com o primeiro classificado, o que aumentou o grau de dificuldade. Deixo alguns exemplos do que nos aconteceu nesses jogos, contra o Dragões Sandinenses sofremos o golo que nos derrotou, aos 94', contra o Vilarinho aos 25' estávamos a ganhar 2-0 e acabamos por sofrer o golo do empate aos 95', contra o Sousense a 15' do fim ganhávamos por 2-0 e acabamos por empatar 2-2, com o golo a surgir aos 90', em Canidelo empatamos 2-2 e sofremos o golo aos 85'. Isto reflecte que enquanto tínhamos força, éramos quase imbatíveis, quando fisicamente quebrávamos, perdíamos concentração e cometíamos erros que originavam golos.
ABR - Fred, é público que não vais orientar a equipa na próxima temporada. O que é que motivou a tua saída?
Fred - Sim é verdade. Numa reunião que tive com o Presidente, foram-me transmitidas as ideias que o clube tinha para a próxima época, que contavam comigo mas que obrigatoriamente tinham que baixar o orçamento, que não podiam manter o mesmo plantel e haveria uma aposta maior nos jogadores da formação. Na mesma hora recusei.
ABR - Referiste numa entrevista a um jornal regional do Concelho, que querias um projecto mais ambicioso. O Arcozelo não tinha a ambição de querer algo mais que a manutenção?
Fred - Não se tratava de um projecto mais ambicioso, mas sim manter a mesma estrutura, resolver o que estava pendente e fazer um reajustamento com a entrada de mais dois ou três jogadores. Era isto que eu pretendia e era o projecto que eu tinha para o Arcozelo. E estou convencido que este ano iríamos ser muito mais fortes, até porque o enquadramento era muito melhor, o que iria provavelmente proporcionar que o Arcozelo andasse nos lugares cimeiros. Isso não foi possível devido a graves problemas financeiros que o clube atravessa e eu respeito a decisão tomada pelo Presidente.
ABR - Foi público também, que a equipa teve alguns meses de ordenados em atraso. Isso pode ter mexido com as exibições dos jogadores? Já está resolvido esse problema?
Fred - Sim é verdade. Eu senti o desespero de alguns jogadores, porque muitos deles precisam daquele dinheiro para comer e não foi fácil para mim lidar com uma situação destas. Criou-se uma grande mal estar dentro do grupo devido a este problema.
ABR - Surgiu um boato de que irias treinar os Dragões Sandinenses. Houve algum tipo de contacto? Teve fundamento ou não passou de um simples rumor?
Fred - Só um rumor.
ABR - Em termos de convites, como é que está a tua situação? Já tens clube ou ainda estas à espera?
Fred - Este ano, a minha grande prioridade é acabar a minha licenciatura em Desporto e irei tentar tirar o Nível 2 do curso de treinadores. Se eventualmente aparecer algum convite que eu ache que seja interessante, irei estudar e decidirei se sim ou não, mas de momento não tive qualquer proposta.
1 comentário:
Foi um ano excelente a nivel humano e de grande amizade entre todos os jogadores e equipa técnica!! Só é pena o clube não ter conseguido cumprir com as obrigações e deixar cair uma equipa que ia fazer história no Arcozelo...um abraço ao Fred,Miguel e Zé Gato pelo excelente trabalho realizado! E um abraço especial a todos que partilharam comigo aquele excelente balneário...Nuno Miguel
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