Depois de mais um jogo impróprio para cardíacos, a nossa selecção conseguiu mais um feito histórico, ao qualificar-se para as meias-finais do Campeonato do Mundo, ao fim de 40 anos. Depois dos magriços em 66, esta selecção volta a atingir um lugar entre as 4 melhores selecções a nível mundial. Scolari e os seus rapazes provaram mais uma vez que só com muita humildade e trabalho, se atingem os resultados necessários. Mas vamos ao jogo propriamente dito.
Nesse campo, as duas selecções fizeram um jogo muito cauteloso, chegando por vezes a ser táctico de mais, para o valor de ambas as equipas. Embora compreensível, pois estávamos num jogo a eliminar e numa fase adiantada da prova, onde qualquer precipitação pode custar a passagem a fase seguinte, o certo é que se esperava mais, devido aos bons valores individuais de ambos os conjuntos.
Scolari fez alinhar de início Tiago ao lado de Maniche, em vez de Simão, mantendo Figo encostado à ala direita e dando de novo a faixa esquerda a Cristiano Ronaldo, depois de este ter estado em dúvida durante quase toda a semana. No meio campo, Petit substituiu o expulso Costinha e a defesa manteve os quatro pilares, Miguel, Meira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente. Na frente Pauleta era o artilheiro de serviço, enquanto que Ricardo continuou a defender, e bem, as redes nacionais.
Do lado inglês, Eriksson jogou com Robinson, Neville, Terry, Ferdinand e Ashley Cole, Hargreaves, Beckham, Gerrard, Lampard e Joe Cole, na frente Rooney.
O jogo começou com a Inglaterra no comando, tal como acontecera em 2004. Os médios portugueses não conseguiam sair a jogar, fruto da grande pressão exercida pelos jogadores ingleses que roubavam todos os palmos de terreno existentes. Só aos 11 minutos, Portugal chegou com relativo perigo à baliza de Robinson, depois de Ronaldo ter pegado na bola e ter rematado forte, ainda de fora da área. No minuto seguinte, o golo esteve nos pés de Tiago. Falta batida da direita do ataque português, Neville oferece a bola a Tiago, que distraído, não consegue fazer o remate. A partir deste momento o jogo ficou um pouco mais equilibrado, mas com os ingleses a espreitar o contra-ataque sempre com algum perigo. O intervalo chegou sem que as equipas tivessem desfrutado de uma flagrante oportunidade de golo.
No reatamento, uma contrariedade para Eriksson, que acabaria por quase ser determinante no desfecho do encontro. Beckham foi substituído logo aos 52 minutos, e para o seu lugar entrou Lennon. Este jogador veio trazer uma dinâmica diferente ao jogo, pois a velocidade imprimida por este jogador foi impressionante e muito trabalho deu a Nuno Valente. Alias, as jogadas mais perigosas do conjunto inglês, saíram dos pés deste jogador. Aos 62 minutos, uma enorme contrariedade no conjunto inglês. Rooney é expulso depois de ter calcado nas partes baixas, Ricardo Carvalho. Horácio Eliozondo, que estava a escassos metros do lance, não teve dúvidas e deu ordem de expulsão ao jogador inglês. A partir deste momento, o jogo partiu-se e Scolari fez a primeira substituição, tirando Pauleta, que tinha estado perdido durante todo o encontro no meio dos centrais ingleses e fez entrar Simão, passando Ronaldo a ocupar o lugar de ponta de lança. Eriksson respondeu, tendo feito entrar a torre Peter Crouch, para o lugar de Joe Cole, passando a jogar em 4x4x1.
Depois deste momento, Portugal passou a dominar numericamente e territorialmente o jogo, implantando-se quase por completo no meio campo inglês. Scolari mexeu mais duas vezes, fazendo entrar Hugo Viana e Postiga, para os lugares de Tiago e Figo respectivamente. Antes de sair o capitão português proporcionou a defesa da tarde a Robinson, quando da cabeça da área rematou em jeito, com selo de golo, vendo o guardião inglês voar, para com uma palmada evitar o golo português. Este domínio revelou-se infrutífero, pois os portugueses não tiveram a clarividência necessária para tentar fazer mais remates de fora da área, e não foi por falta de executantes, pois em campo estavam Maniche, Petit e Hugo Viana, que rematam muito bem de meia distância. A Inglaterra já no fim dos 90 minutos, teve soberana oportunidade para matar o jogo, mas Terry não acertou no alvo. O prolongamento chegou em boa hora para os ingleses, que conseguiram aguentar durante mais 30 minutos as investidas portuguesas. Já no fim do prolongamento Maniche teve nos pés o golo da vitória, mas atirou por cima.
Nas penalidades, mais suspense. Depois de Simão ter marcado muito bem o seu penalti, Ricardo começou a sua epopeia. Defendeu o remate de Lampard, que em dois anos não tinha desperdiçado nenhum, viu depois Hugo Viana atirar ao lado, por pouco não defende o de Hargreaves, volta a ver mais um desperdício, desta feita de Petit, mas consegue depois defender o remate de Steven Gerrard, e o de Carragher, para depois exultar com o golo de Cristiano Ronaldo. Pelo meio, Postiga, desta vez sem o pontapé a Panenka, também bateu Robinson.
No fim da partida o desalento dos jogadores ingleses contrastava com o ambiente de festa dos portugueses, que ao fim de quatro décadas chegam novamente as meias-finais de uma grande competição. Os ingleses confirmam a regra de nunca vencer um jogo que acabe no desempate por grandes penalidades. Para a história fica o registo de Ricardo ser o primeiro guardião num mundial a defender três grandes penalidades no mesmo jogo.
O Melhor do jogo
Nesta matéria, ao contrário da FIFA, que escolheu Hargreaves (!), eu escolho Ricardo. É certo que o médio inglês fez uma bela partida, tendo tido alguns bons apontamentos, mas Ricardo foi o garante da passagem dos portugueses à fase seguinte e alem de ter defendido três grandes penalidades, entra na história precisamente por esse facto.
O Pior do jogo
Aqui tenho que destacar Wayne Rooney. Complicou sobremaneira a vida à sua selecção, depois de mais um acto irreflectido, ao calcar Ricardo Carvalho, mesmo nas barbas do árbitro. Significativa das dificuldades que iriam esperar os ingleses, foi a atitude de Gary Neville, que logo que foi exibido a cartão vermelho ao jovem atacante, correu na direcção do banco, berrando com Beckham, para que este, na qualidade de capitão de equipa desse um raspanete ao jogador.
O Arbitro
Completamente despercebido. Neste jogo Horácio Eliozondo confirmou que é um dos melhores árbitros a actuar no torneio. Apenas quatro amarelos, dois para cada lado, e um vermelho, todos justificados. Passou ao lado das pressões da imprensa inglesa, que queriam fazer dos jogadores portugueses uns bárbaros batoteiros.
O Resto da jornada.
Alemanha-Argentina
Os quartos de final começaram na sexta-feira, com o Alemanha-Argentina e o Itália-Ucrânia.
O primeiro jogo pôs frente a frente dois campeões mundiais, e grandes candidatos à vitória final, reavivando a final do Itália 90, daí ter sido considerado como uma final antecipada. Este foi um dos jogos mais tácticos destes quartos, pois na primeira parte apenas houve uma oportunidade clara de golo, a pertencer aos anfitriões, com Ballack a cabecear não muito longe da baliza de Abbondanzieri. A Argentina entrou expectante e a jogar no erro dos alemães, erro esse que apenas se veio a verificar no reinicio da partida, quando Klose não acompanhou Ayala na sequencia de um pontapé de canto, permitindo ao defesa argentino chegar primeiro e abrir o activo. O mais interessante é que o remate do golo foi o primeiro efectuado pelos argentinos em toda a partida. Pekerman surpreendeu um pouco ao fazer entra Tevez para o lugar de Saviola e ao não ter feito entrar Léo Messi nem um minuto dos 120 disputados. Os argentinos, com mais posse de bola, não foram tão eficazes como tinham sido contra a Servia e Montenegro, e a um quarto de hora do fim da partida, o treinador tentou guardar a vantagem, fazendo entrar Cambiasso para o lugar de Riquelme, tirando assim o pouco de criatividade que o meio campo sul americano tinha demonstrado. Naturalmente houve um recuo dos argentinos, muito bem explorado por Klinsmann, que antes desta substituição já tinha feito entrar Odonkor para o lugar de Scheneider, dando mais profundidade ao lado direito alemão, para depois fazer entrar Borowski para o lugar do Schweinsteiger. A Alemanha passou a dominar e a pressionar mais perto da baliza de Léo Franco, que entretanto tinha substituído o lesionado Abbondanzieri, e a 10 minutos do fim dos 90, Klose faz a igualdade. Jogada de Ballack pela esquerda, centrando para o centro da área onde Borowski desvia, encontrando no caminho Klose, que fuzila por completo o desamparado Franco. O jogo ia para prolongamento, mas antes disso Lucho Gonzales, teve uma boa oportunidade para desfeitear Lehmann, no entanto a jogada seria invalidada por fora de jogo de Tevez. No prolongamento nada de relevante, tendo-se seguido a lotaria das grandes penalidades, com a curiosidade de nenhuma equipa ter ainda perdido nesta forma de desempate. A sorte sorriu aos alemães, que mais frios conseguiram apontar 4 grandes penalidades contra duas dos argentinos. Ayala, o marcador do golo sul-americano e Cambiasso, falharam para os alvicelestes.
No fim grande confusão, com os argentinos a travarem-se de razões com os responsáveis alemães, sem no entanto se saber bem porquê. Deste desentendimento, Cufre saiu expulso, por ter agredido o alemão Mertesacker.
Itália-Ucrânia
Os italianos, acusados de pôr em pratica o catennacio, golearam a estreante Ucrânia. O resultado final foi de 3-0 com os italianos a adiantarem-se no marcador logo aos 6 minutos apontado por Zambrotta. Os ucranianos foram uns dignos vencidos, e nunca baixaram os braços, tendo estado muito perto da igualdade aos 50 e aos 57 minutos, através de remates de Gusin. Os estreantes viram a vida mais complicada, quando na sequência de uma jogada perigosa, que levou Buffon a tirar a bola encima da linha de golo, viram o contra-ataque venenoso, acabar em golo. Foi aos 59 minutos e o autor foi Luca Toni, que assim se estreia a marcar na competição. Aos 69 minutos a Itália matou o jogo, em mais um excelente de Zambrotta, que arrancou da esquerda, dando depois a Toni a oportunidade de bisar, precisando apenas de encostar para o fundo das redes do desamparado Shovkovskyi.
Os jogadores italianos cumpriram a promessa e dedicaram a vitória a Gianluca Pessoto, ex-internacional italiano que na passada terça feira caiu de um segundo andar, nos escritórios da Juventus, local de trabalho do ex-jogador, estando no ar a tentativa de suicídio. Na volta de honra ao Estádio de Hamburgo, os jogadores da Azzurra sustentaram uma bandeira onde podia ler-se: Pessottino siamo com te (Pessotto estamos contigo.)
Com esta vitória, a Itália atinge a oitava presença em meias-finais da competição, e vai defrontar a Alemanha, procurando assim o tetra, depois de já ter vencido em 1934, 1938 e 1982.
Brasil-França
Deste jogo sairia o adversário de Portugal nas meias-finais da competição. E contra todas as contas, o adversário será a França.
Os velhinhos, como a imprensa gaulesa catalogou os seus seleccionados, deram uma lição de futebol aos brasileiros, com o avô Zidane na batuta. O jogador, que já anunciou o fim da carreira quando acabar o campeonato do mundo, quer chegar a Berlim e se possível fechar com chave de ouro, uma carreira já de si, bem brilhante. Quanto ao jogo, propriamente dito, apenas uma equipa esteve em campo e essa foi a França. O Brasil foi uma sombra de si próprio, como alias em todos os jogos já disputados, e não foi capaz de criar uma única jogada de perigo em todo o primeiro tempo. A França ia-se chegando a frente e acreditando que num rasgo de sorte poderia bater esta fraquíssima selecção brasileira, que deixou a impressão de que, caso tivesse um grupo mais experiente, teria ficado logo por ali…. Ronaldo não apareceu, Ronaldinho terá ficado em Barcelona? Kaka só jogou contra a Croácia? São enigmas que cabe agora a Parreira e companhia em conjunto com a imprensa e os 180 milhões de brasileiros, desvendar.
No segundo tempo, a Franca entrou decidida a marcar e Henry deixou o aviso logo na reabertura, ao cabecear um tudo-nada ao lado da baliza de Dida. Mas ao minuto 57 acertou mesmo. Livre apontado por Zidane da esquerda do ataque gaulês, Toda a gente a fugir para o centro da área e esqueceram-se de Henry que completamente sozinho apareceu na cara de Dida, batendo-o inapelavelmente. O Brasil esboçou uma ténue reacção, mas foi a França que poderia ter sentenciado o encontro, tivesse Ribery aproveitado a situação que teve aos 69 minutos, quando apareceu sozinho na cara de Dida. Até ao fim apenas um remate perigoso de Ronaldo de fora da área, mas bem controlado por Barthez.
Assim a França consegue chegar novamente às meias-finais, onde vai defrontar Portugal, procurando um lugar na final de 9 de Julho em Berlim.
Os brasileiros voltam para casa, cabisbaixos, e de certeza à procura de explicações para tamanho eclipse de uma selecção que contem dos melhores executantes da modalidade. Ao fim de 11 jogos o Brasil volta a perder um jogo num Mundial, depois de ter sido derrotado em 1998, na final do Mundial de França e por esta mesma selecção gaulesa.
Para registo, desde 1990, que os canarinhos não caíam numa fase adiantada da prova, tendo na altura sido derrotados pela Argentina nos oitavos de final, por 1-0 com golo de Caniggia a 10 minutos do fim da partida.
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