18 de agosto de 2006

O balanço da pré-época dos 3 grandes (2)

FC Porto

O FC Porto deu inicio a sua pré-época a 10 de Julho. Ainda as coisas estavam a aquecer, e já o Campeão Nacional entrava a ganhar e logo de goleada ao Cerveira por 17-0 (!), números que só se explicam devido ao facto do adversário ser amador. O estágio de pré temporada seria realizado em De Lutte, na Holanda, e os azuis e brancos partiriam a 17 de Julho. Logo no dia seguinte realizaram o primeiro jogo em terras holandesas, batendo os amadores do Rohda Raalte por 6-0, mas a diferença de golos poderia ter sido maior, caso os portistas tivessem a pontaria mais afinada. Alias, este seria um factor que mais tarde traria alguns dissabores ao conjunto portista. Os jogos amigáveis foram-se sucedendo e com eles o grau de dificuldade também foi aumentando. O primeiro jogo mais difícil, foi contra o Groningen, e logo saltaram a vista, os problemas do 3x3x4 de Adriaanse, contra equipas mais fortes, e o resultado acabaria por ser um 2-2, mas com o FC porto a correr sempre atrás do prejuízo e demonstrando algumas lacunas, tanto a nível ofensivo, como defensivo. Pelo meio mais dois jogos contra equipas de calibre menor, e mais duas goleadas, primeiro por 9-0, ao Stevo e depois 13-0 ao Rigtersbleek. Nesta fase do estágio, dois jogadores iam sobressaindo, eram eles Anderson, que confirmou todas as credencias que trazia consigo, quando ingressou nos azuis e brancos na reabertura do mercado, em Dezembro, e Bruno Moraes, que depois de estar algum tempo lesionado, parecia afirmar-se através dos golos que marcou, tentando assim suprimir algumas ausências neste sector, pois Adriaanse não contava com Hélder Postiga, Hugo Almeida já fora emprestado ao Werder Bremen, e McCarthy vendido ao Blackburn. Aliás, um dos factores que pode tornar esta equipa do FC Porto um caso sério, tanto a nível interno, como externo, é o facto de não ter saído nenhuma peça nuclear do onze base da época passada, e aqueles que saíram, serem apenas opções de recurso, ou mesmo não utilizáveis, caso de Diego.

Depois de defrontar o Heracles, em mais um jogo pobre, que terminou com vitória portista por 1-0, os azuis e brancos rumaram a Portugal, para então se apresentarem aos sócios. O Adversário escolhido foi a Roma, e o jogo terminou com um magro 1-0, a favor do FC Porto, mas deixou a impressão de que poderiam ter sido mais, caso os avançados estivessem mais eficazes.
Não foi novidade para ninguém o facto de Adriaanse querer um avançado com experiência para completar o plantel. Ao grupo do ano passado, juntaram-se João Paulo, que veio do Leiria, Ezequias proveniente da Académica, Diogo Valente, que veio do Boavista, Tarik Sektiui, do AZ Alkmaar e Vieirinha, promovido da equipa B. Nenhum destes atletas joga na posição de 9, pois dois são jogadores mais defensivos e os restantes jogam pelas alas, o que beneficia o esquema utilizado, embora o FC Porto tivesse varias soluções para essa posição, nomeadamente Alan, Quaresma, Anderson ou Jorginho. Depois da dispensa de Hugo Almeida e da quase dispensa de Postiga, aliada à venda de McCarthy, era portanto imperativo comprar um jogador para jogar no vértice do ataque, ou seja, um finalizador, um homem de área, que correspondesse aos cruzamentos, e materializasse as jogadas de ataque em golo. Alguns foram os nomes avançados pela imprensa, nomeadamente o nome de Vennegoor of Hesselink, jogador do PSV Eindhoven, que só não rumou ao Dragão devido a um desacordo de verbas: os holandeses queriam qualquer coisa como 8 milhões de euros, o FC Porto só estava disposto a pagar 6 milhões. Ninguém cedeu, e o negócio não se realizou. Mas mais nomes foram falados. Diego Tristan, jogador do Corunha, também foi falado pela imprensa, embora tenha sido a titulo meramente especulativo, pois nunca houve um interesse declarado dos dragões no jogador, nem o técnico nunca falou nele, Miccoli também foi falado, embora Pinto da Costa tenha vindo dizer depois, que o único interesse que o FC porto tinha no atleta, era que ele não viesse a titulo definitivo para os rivais de Lisboa, o SL Benfica. Mais recentemente falou-se também num atleta colombiano, Renteria de seu nome, mas já foi negado qualquer contacto com o jogador. O certo é que não houve ponta de lança para Adriaanse, que não gostou, e assim os azuis e brancos partiram novamente para a Holanda, disputar o Torneio de Amesterdão, juntamente com Ajax, Man. United e Inter de Milão.

A participação do FC Porto neste torneio foi bastante péssima, tendo perdido os dois jogos efectuados, frente ao Man. United e Inter de Milão, tendo sofrido 6 golos e marcados apenas 3. Neste torneio ficou bem patente que algo não estava bem entre departamento técnico e direcção, pois começaram numa troca de palavras que terminaria mal. Após o jogo com United, Adriaanse voltou a fazer referência à necessidade de contratar um ponta de lança, sob pena de jogar bonito e de perder, por falta de eficácia dos jogadores. É certo que o FC Porto fez um bom jogo, talvez um dos melhores desta pré temporada, com Pepe a apontar o melhor golo do torneio, com um remate do meio da rua. Mas as lacunas defensivas também foram enormes, e começava-se a provar que este esquema de 3x3x4 poderia não funcionar na Europa, pois as equipas não jogam tão fechadas como em Portugal e quase todas jogam com dois dianteiros, o que dificulta, e bastante, principalmente se a equipa não estiver bem rotinada. Mas as dúvidas seriam dissipadas no dia seguinte com nova derrota, esta por 3-2, e com a agravante de os azuis e brancos terem sofrido dois golos em 1 minuto, algo que não me lembro que tenha acontecido. No fim da partida Adriaanse voltou a falar no ponta de lança, foi confrontado com declarações do presidente de que não haveria dinheiro +ara o jogador que ele queria, e então Adriaanse voltou a ripostar, dizendo que “então vamos jogar bonito e não vamos ganhar”. A partir deste momento o clima direcção-tecnico, já tinha visto melhores dias, e quando Pinto da Costa aterrou em Portugal quando confrontado com as declarações do técnico, respondeu dizendo-se surpreendido com o facto de o FC Porto ter sofrido 2 golos num minuto, e que o treinador tinha que trabalhar com os jogadores que tinha à disposição e que não haveria ponta de lança para ninguém.

O plantel portista ainda ficaria na Holanda para disputar mais um jogo, e depois seguiria viagem para Inglaterra, para mais dois jogos amigáveis, antes do primeiro jogo oficial, já no Sábado, frente ao Vit. de Setúbal, a contar para a Supertaça Cândido Oliveira.
O jogo que o FC Porto realizou na Holanda, foi o último de Adriaanse ao comando técnico da equipa. Embora os azuis e brancos tenham vencido por 2-5, o técnico não terá gostado da atitude dos atletas, aos quais passou um valente raspanete, segundo a comunicação social. A hora do jantar, o técnico portista terá sugerido que a equipa técnica jantaria primeiro e só depois os jogadores, o que motivou que vários atletas não tivesse tomado a refeição. No dia seguinte, Adriaanse apresentaria a sua demissão, alegando falta de crença de alguns elementos do grupo no seu trabalho, e esta foi aceite pela direcção, o que comprova que as relações já não eram as melhores.

Acaba assim, sem glória, o reinado do general. Adriaanse sempre foi um homem de convicções fortes, defendendo o seu ponto de vista até as ultimas consequências, como fez com o sistema de jogo, mas desta vez não conseguiu levar a água ao seu moinho, e a corda partiu para o seu lado. O pior que se pode fazer é iniciar uma guerra contra o próprio chefe, pois o trabalhador sai sempre queimado. Adriaanse pôs à prova PC e acabou perdendo todo o seu apoio, o que levaria inevitavelmente à sua demissão. Pena o timming em que aconteceu, pois a duas semanas do início do campeonato, o sucessor terá muito pouco tempo para fazer o seu trabalho.

Positivo da pré-temporada

Vendo a situação actual da equipa, com um treinador interino, o positivo mesmo será o facto de o FC Porto ter mantido a estrutura base da época transacta, e de a equipa não se ter abalado com a demissão do treinador e ter vencido os dois jogos em solo inglês. Apenas McCarthy era a peça, das que saíram, mais usada por Adriaanse, embora só a partir da segunda volta. Um factor positivo também é o facto de Postiga ter sido reintegrado no plantel portista e de poder ter sido encontrada, pelo menos para já, a solução atacante que Adriaanse queria. Sabe-se agora que a direcção portista terá tentado junto Werder Bremen, promover o regresso de Hugo Almeida, mas os alemães negaram essa opção. Positivo também é saber que pode já estar escolhido o sucessor, e que ele será Jesualdo Ferreira, que estava ao comando técnico do Boavista. Esta será uma boa opção? Só o tempo o dirá… Certo é que, embora a ideologia táctica não seja a mesma pois Jesualdo privilegia o 4x4x2 e o 4x3x3, é um treinador com vocação ofensiva e com algum currículo, conquistado ao serviço do Sp. de Braga e que lhe valeu a ida para o Boavista.

Negativo da pré-temporada

De facto o factor negativo desta pré-época portista é a demissão de Co Adriaanse do comando técnico. Não pela demissão em si, mas pelo timming em que é formalizada e pelos motivos que a envolvem. Não é muito difícil de prever o que pode acontecer, tanto mais que a duas épocas os azuis e brancos viveram situação semelhante, com Luigi Del Neri, tendo que o substituir por Victor Fernandez, precisamente a uma semana do jogo da Supertaça, na altura, frente ao Benfica. É certo que os dragões venceriam essa taça, mas perderiam o campeonato e não fizeram uma época normal, conhecendo ainda mais um treinador. É certo que as coisas não acontecem duas vezes seguidas, mas Adriaanse tinha uma filosofia de jogo que poucos treinadores têm. Neste momento, e para não haver um choque de mentalidades, o ideal seria contratar um treinador que jogasse basicamente no mesmo sistema, estando então Pekerman no topo das escolhas, pois com a Argentina no mundial, o esquema usado pelo técnico foi o 3x4x3. Mas ao que tudo indica a escolha dos dirigentes caiu em Jesualdo Ferreira. Será talvez a ultima oportunidade deste técnico orientar um grande do futebol português, depois de ter treinado o Benfica, mas sem atingir grande sucesso, tendo depois ido para Braga, para ai sim, desenvolver um excelente trabalho.
É negativo também, o facto de o esquema de jogo do FC Porto ter falhado contra equipas mais fortes ou de valor semelhante. Ficou comprovado que para consumo interno, o esquema poderia chega, mas para ser usado na Liga dos Campeões, não seria uma boa opção. Adriaanse não tinha nenhum esquema alternativo, pois nunca usou mais nenhum durante o estágio, e aqui o Benfica leva vantagem, pois os seus responsáveis conseguiram suprimir essa lacuna a tempo de ser adquirido um novo esquema. Mas vai ter que se aguardar pelo novo treinador para ver o que irá ser feito.
Não posso deixar de apontar como negativa a venda do Diego. Primeiro porque o FC Porto gastou 7 milhões na sua contratação e vendeu-o apenas por 6 milhões, perdendo um milhão de euros, depois porque é um jogador com inegáveis qualidades e que caberia perfeitamente no esquema do 3x3x4, ou no que o novo treinador portista utilizar, já para não falar na perda de um jogador que acrescentava mais qualidade ao futebol português.

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